Cura, s.f. 

  1. MEDICINA

restabelecimento da saúde.

método especial de tratamento.

  1. FIGURADO (SENTIDO) • FIGURADAMENTE

melhora, remédio, solução.

 

Ok! De cara, quando se recebe um diagnóstico, não tem como não cobiçar esse “substantivo feminino”, mesmo sem ler os significados acima, esta palavra vem quase que conjuntamente com a notícia de que “você tem câncer”. Na verdade, vem um pouco depois. A primeira, infelizmente, ainda é morte. Mesmo tendo caminhado muitíssimo no esclarecimento de como é possível sim  (con)viver com um câncer, ainda temos muito o que aprender. O que às vezes me incomoda é a busca frenética pela cura, sem perceber certas (outras) coisas que fazem parte do caminho. É claro que todos queremos estar bem, é claro que queremos seguir por aqui (eu pelo menos, e por muitos anos). Mas na verdade, o que é a cura? O que é saúde?

Porque especialmente desde que me dei conta que tenho uma doença incurável, a cura passou a ter outro significado além de “restabelecimento da saúde”. 

Há muito tempo vivo de ressignificados. Ressignificar minha saúde, minha doença, meu corpo e como me sinto. Ressignificar minha conexão com o divino, comigo mesma e com as pessoas que amo. A cada dia o pensamento de que o importante não é a cura da doença, e sim a cura da pessoa é mais constante em minha vida. 

Me sinto curada todos os dias. Quando acordo sorrindo com as mensagens dos amigos no whatsapp, quando encontro minha família, quando consigo apoiar alguém que esteja precisando, quando continuo fazendo planos de viagens, quando num sábado à noite me sinto ótima, e sozinha em casa abro uma garrafa de vinho enquanto faço uma comidinha da boa, quando ouço aquela música que adoro e danço, quando faço uma caminhada para ativar meu corpo, quando acendo uma vela e me conecto com meus guias, santos e protetores, e até quando decido passar o dia na cama porque o corpo pede. Sentir o sol tocar meu rosto me cura. Olhar pro mar me cura. Tomar um banho de cachoeira me cura. Ver as pessoas que amo sorrindo, também me cura.

Tenho uma doença incurável. E não romantizo nada, porque viver é um desafio constante. Mas poxa, tô aqui! Focada na busca pelo meu bem estar, todos os dias. Essa tem sido minha prioridade, e quando vejo tudo o que tenho feito por mim, me sinto ainda melhor. Me sinto curada todos os dias. E assim sigo, aprendendo, compartilhando e sonhando com o dia em que será possível ampliar essa visão além de mim mesma, para que mais pessoas entendam essa cura que vai além do substantivo.

 

Sobre o autora:

Cris Gil é mineira de Belo Horizonte e adora mar, cachoeira, rio. Tem câncer metastático desde 2018, é produtora cultural e faz parte da Casa Paliativa desde o começo. Acredita que os encontros não são por acaso, que é possível sonhar sempre e que a vida vai muito além do que um diagnóstico.

19 Comentários

  1. Cris meu câncer se foi um dia, mas minha vontade de viver e ver mulheres como vc nos ensinando a não deixar as oportunidades escaparem é o que me traz a vacina para não encarar mais nada com pessimismo. Vcs são uma luz para esse mundão adoecido. Gratidão pelo relato

    • Que lindas palavras e sabedoria de vida, Cris! Neste ano tão atípico que em breve se despede, recebo-as aqui no meu coração e me conecto a você e ao seu propósito de vida, que deveria ser o de todos nós. Por que, afinal, nesta nossa breve jornada, precisamos dessas doses diárias de autocura, autocuidado, amor e gentileza nas pequenas grandes coisas da vida. Saudade de você e da sua boa energia!

  2. Que lindas palavras e sabedoria de vida, Cris! Neste ano tão atípico que em breve se despede, recebo-as aqui no meu coração e me conecto a você e ao seu propósito de vida, que deveria ser o de todos nós. Por que, afinal, nesta nossa breve jornada, precisamos dessas doses diárias de autocura, autocuidado, amor e gentileza nas pequenas grandes coisas da vida. Saudade de você e da sua boa energia!

  3. Cris! Fico feliz ao ver sua construção nesse caminho de colocar em palavras, suas experiências, sua sensibilidade de produtora que sabe levar ao público algo além do “olhar fixo”, com sutileza e consistência! Bjs

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