Neste momento, começa A Voz do Brasil.Por MUITOS anos, era exatamente às 19hs.

Aprendi a ouvir as notícias com meu adorado pai. Ele não sabia ler, mas gostava bastante de estar sempre muito bem informado. E preferia o rádio, onde ouvia os programas de músicas que gostava e ainda tinha este noticiário ‘radiofônico’.

Eu sempre ouvia junto. Ele tinha um Motoradio lindo… De madeira e outro, também Motoradio vermelhinho, que ficava ligado bem baixinho, debaixo do travesseiro dele.

A gente se divertia com minha mãe, entrando de ponta de pé no quarto pra desligar o radinho de pilha.

Ele estava dormindo, soltando o ar pelo cantinho da boca (eu e Renata adorávamos ficar quietinhas vendo ele dormir assoprando aquele arzinho no cantinho da boca😍)

Assim que a nossa mãe desligava o radinho, ele abria os olhos. Bravo!!!!

_Ôôô, Dnª Gê. Me deixa dormir sossegado.

_ Mas Nego. Desliguei pra você dormir.

_ Dnª Gê. Meu radinho não me atrapalha dormir.

Ela voltava, contrariada, pra máquina de costura. E ele adormecia de novo. 

Trabalhou mais de vinte anos no turno da noite, como ele dizia.

Chegava cedinho, fazia um virado de feijão com ovo e farinha e comia antes de dormir.

Às vezes, eu e Renata já estávamos acordadas. E queríamos comer com ele.

E ele… Cansado, mas com todo amor e paciência do mundo, sentava-se a mesa, com uma de nós sentada em cada perna e dava o virado dele na nossa boca. Com o café dele. 

Sempre com leite. Como eu ainda tomo, tantos anos depois.

Só então, ele ia comer. Fazia de novo o virado, comia e ia dormir. Com o radinho de pilha ligado debaixo do travesseiro.

Muitos anos depois, um dia ele mesmo contando isso, me disse que o primeiro virado é que era gostoso. Mas que ele nunca se importou em dá-lo para nós.

NOSSA!!! Quanta saudade!!!!

Ao lembrar dessa nossa história, senti o cheiro do meu pai… O cheiro e o gosto do virado e do café…

E senti o colo quentinho do meu Papito lindo.

No início desta escrita, meu foco era só a Voz do Brasil, que nos dias de hoje é às 20hs.

Mas ao procurar a vinheta para ilustrar minha história, lembrei de tanta coisa linda.

E, compartilhando minhas memórias, honro e mantenho meus pais vivos em mim, e os apresento aos meus amigos.

 

Sobre a autora:

Sandra Gonçalves. Apaixonada por música e literatura. Mãe de Narany Mireya, Naliny Milena e Nathaly Melissa. Avó do Kainã. Professora de Música, Português, Inglês, Literatura. Especialista em Simbolismo e Pós Graduada em Linguística. Paciente oncológica de câncer de mama desde 2013. Enfrentando o terceiro diagnóstico, portanto em tratamento paliativo; porém… Vivendo cada um dos dias, In-ten-sa-men-te!!!

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